sexta-feira, 2 de maio de 2014

Clássico VS Oldschool

Essa semana brinquei com 3 jogos que me fizeram refletir sobre as diferenças entre jogos clássicos e oldschool.

Sou um jogador mais velho, gosto de alguns jogos com premissas e convenções mais antigas. Console Saga, que analisei essa semana, é um bom exemplo. Trata-se de um jogo que não vai agradar a todos porque o design é antigo/ oldschool, mas a mecânica e as fases são sólidas o bastante para segurar o interesse no jogo.

Com base nessa boa experiência, tentei um outro jogo de Play Station Mobile: Boot Hill Heroes, um RPG com mecânica oldschool (Pixel Art + Combate por turnos) com temática de caubói. Achei que essa ambientação diferente poderia ser interessante o bastante para escapar do caráter genérico que jogos simples e de baixo orçamento costumam ter.

Com algumas referências ao 'De volta para o Futuro 3' e visual que lembra Earthbound nos screenshots da loja virtual, achei que valia arriscar - mesmo com o alto preço de 8 dólares.

Bando a cavalo e personagem chamado Doc: mordi a isca

O começo do jogo promete: boa música e ambiente interessante, uma história de vingança que considero adequada pro tema de velho peste (seu personagem é morto nos primeiros 5 minutos e deixa um herdeiro, que com certeza vai atrás do bando que matou seu pai).

Bando de vilões é bem bizarro: promessa de grande diversão

Já estava esfregando as mãos e pensando: beleza! Achei que seria um bom jogo para escrever uma análise aqui.

Daí o jogo começa de fato, 10 anos depois, e seu personagem (um adolescente) vai... matar ratos num celeiro. Puta que pariu! Levou 5 minutos para o jogo se tornar totalmente genérico.

Ainda pensei: vá lá, deve ser uma espécie de tutorial. Depois de 15 minutos matando ratos no celeiro, achei que ganharia mais desistindo do jogo. Não descarto a possibilidade de ter acontecido algum BUG que tenha travado a progressão da história, mas o fato é que fiquei 15 minutos indo e voltando pro celeiro pra matar ratos.

Gastei 8 dólares (caro para um jogo da PSM), e o jogo se sustentou por uns 20 minutos.

Por uma feliz ironia do destino, uma promoção da PSN vendia Chrono Trigger (um RPG de Super Nintendo que já joguei umas 3 vezes, mas nunca cheguei ao fim) por 3 dólares. Essa é a versão de PSOne, que tem umas animações. Decidi abraçar.

Pode parecer uma comparação sacana - Chrono Trigger é um dos maiores clássicos de RPG de todos os tempos. Mas esse custa 3 dólares, o outro custou 8. Os dois usam mecânicas clássicas. Acho a comparação honesta.


A diferença é gritante. O universo, o ambiente e os pequenos conflitos daquele reino dão vida para a premissa medieval, meio genérica, desde o primeiro minuto no jogo. Os personagens são interessantes, apesar de infantilizados.

O visual pixelado também tem estilo: cores vibrantes, animações com expressões exageradas que funcionam para sinalizar o que está acontecendo com o personagem.

Civilizações perdidas, tecnologia, viagem no tempo, personagens com seus próprios dramas e questões interessantes. O conjunto é intoxicante.

E aí está a diferença entre clássico e oldschool: os clássicos sobreviveram ao teste do tempo, mesmo com mecânicas ultrapassadas (ou já usadas à exaustão).

O Oldschool simplesmente retoma essas mecânicas. Alguns mostram que ainda há o que se fazer com elas através de boas idéias - design, história, alguma coisa.  Outros não.

Hotline Miami: visual pixelado e Topdown Shooter são elementos oldschool, já usados milhares de vezes. Mas a mecânica cerebral, precisa, rápida e sangrenta é totalmente inovadora

Console Saga faz isso de uma forma bem crua, mas faz. Thomas was Alone, outro Old School, faz isso acrescentando história, música e humor - mesmo sendo extremamente simples.

Thomas was Alone pega visual e mecânica simples e dá um show no design das fases.

Boot Hill Heroes usa mecânica e visual clássicos, e te coloca pra matar ratos por 15 minutos. Você pode me considerar cruel por não dar uma chance ao jogo, por desistir na primeira valeta. Mas achei que extrapolou minha boa vontade por muito. Ainda não estava apaixonado pelo jogo para suportar uma sessão dolorosa assim.

Se for um BUG, pior ainda. É um jogo simples demais para isso. E o responsável pelo BUG é sempre o próprio desenvolvedor do game.

Nesse sentido, fica aqui meu lamento: oldschool não pode representar um jogo simples, usando fórmulas testadas e aprovadas. Para ele justificar sua própria existência, tem que trazer alguma coisa interessante para a mesa. Se não, prefiro mil vezes jogar um clássico.

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