terça-feira, 25 de março de 2014

Grandes olhando para pequenos - como isso afeta nossa diversão?

Essa semana a Disney comprou a rede de vídeos do You Tube chamada Maker  Studios. Essa rede é famosa por trabalhar com vários caras com propostas modestas e uma audiência de respeito.

O mais famoso é o PewDiePie, que tem mais de 25 milhões de assinantes e que basicamente posta vídeos dele mesmo jogando vídeo-game. Independente de quanto ele ganha por vídeo, o mais interessante é o quanto custa para ele fazer os vídeos - provavelmente quase nada.

Não é meu favorito, mas as pessoas amam esse cara

Outro que está na Maker Studios e que gosto mais é o Total Biscuit, que traz uma abordagem mais exploratória a novos jogos - o WTF is... (basicamente, que diabos é [insira nome do jogo aqui]). Ao invés de análises estruturadas, ele pega um jogo novo joga por uns 20 minutos enquanto comenta as impressões dele.


Outros exemplos
O Google comprou participação da Green Throttle a cerca de 2 semanas (empresa pequena tentando bolar uma plataforma para jogos Android). Essa empresa era pequena e sem grandes pretensões - e ainda assim o Google resolveu embarcar na proposta.

No lançamento do PS4, os dirigentes da Sony deram bastante destaque para os desenvolvedores de jogos independentes. Sem contar que o PSVita, portátil da Sony, que hoje se sustenta em grande parte em jogos independentes - muita gente chama o Vita de Indie Machine.



Finalmente, para usar um exemplo daqui, acho que o pessoal do Porta dos Fundos aparecendo em comerciais da TV aberta e começando a aparecer em seriados da GNT e da Globo seguem o mesmo movimento.


Além da coincidência
Já sabíamos que esses caras pequenos têm voz. Mas essas aquisições nos fazem pensar o quão forte é essa voz, e até onde vai a importância deles.

Desde que eu estava na faculdade, quando a internet ainda era novidade, já escutava falar que a web seria uma grande força para democratizar a criação de conteúdo. Acho que esse movimento só está está se consolidado com essas aquisições.

Não pude resistir a essa imagem, mesmo sendo protegida. Isso resume perfeitamente o nosso tema


Ainda é cedo para saber se vai acontecer um movimento de convergência, ou se esses diferentes canais (mainstream e independente) vão manter filosofias próprias. Torço pelo segundo cenário.


E como isso muda nossa diversão, afinal de contas?
Gosto do cenário em que os produtores de conteúdo independente são... bem, independentes.

Já os produtores grandes e tradicionais de conteúdo costumam ter aquela postura meio patética de tentar adequar os novos formatos dentro do modelo de negócios deles. Já vimos isso na indústria da música (primeira a ser mais impactada pela internet).

Matéria divertida de 1998 - Economist falando do medo crescente que a indústria fotográfica tinha da internet. Eles deveriam ter tido mais medo mais rápido

Geralmente o mercado precisa de um tempo de acomodação até achar os seus novos caminhos - e imagino que isso deve acontecer aqui.

O grande problema é que, quando os grandes compram os pequenos, são eles que têm as grandes decisões nas mãos. Resta saber se vão deixar o pessoal trabalhar de forma independente.


Mais exemplos de fracasso do que sucesso
Os exemplos mais recentes mostram que a tendência é meter os pés pelas mãos. Uma empresa grande acha que vai revolucionar o mercado independente, inunda os cofres deles com dinheiro e recursos... e o conteúdo independente perde a personalidade.

Muita gente associou a qualidade do Dragon Age 2 à presença da EA. A Electronic Arts é considerada o império do mal no mundo dos games, algo parecido com o que muitos pensam da Globo aqui no Brasil


Vimos isso quando a Electronic Arts comprou a Bioware e fez uma grande lambança com Dragon Age 2 (e, em certa medida, Mass Effect 3). Li uma entrevista com os donos da Bioware na época, e a expressão que eles usaram foi: eles te dão corda para se enforcar.

http://www.joystiq.com/2013/04/10/zeschuk-ea-gives-you-enough-rope-to-hang-yourself-in-a-good/

Tive o desprazer de assistir o Rafael Infante esse final de semana no novo enlatado de humor da Globo. Não sei o desempenho do programa na audiência, mas deu pra ver que é um show melancólico, forçado, sem alma.

Não estou criticando a Globo - acho que eles fazem TV tradicional muito bem. Mas você vê a dor deles tentando se adequar a esse novo cenário de mídia - e provavelmente vão conseguir em algum momento.


Dinheiro =/= diversão
O choque filosófico é justamente esse: as grandes empresas pressupõem que jogar dinheiro em cima de um problema faz com que ele vá embora (ou que o cenário melhore de alguma forma). Acho que essa lógica nem sempre funciona no mundo criativo.



Os independentes geralmente se sustentam em estilo, personalidade e cérebro - sem se importar com técnica e qualidade na produção. Não acho que um programa se beneficie por ter iluminação ruim ou som com eco, mas esse não é o coração dos independentes.

Conclusão
Espero que o conteúdo independente continue sendo independente. O problema é que essa decisão gora estará na mão das empresas grandes e tradicionais.

A vantagem é que os independentes são muito ágeis, e hoje têm acesso a canais bem abertos. Se o You Tube deixa de ser interessante, é fácil pular para outro serviço semelhante. O mesmo vale para a Disney.



A esperança está nessa declaração aqui, do Total Biscuit:
"É, a Disney agora é dona do Maker e também é dona da Polaris (canal onde ele cria conteúdo). Não tenho idéia do que isso significa para nós, mas vou continuar criando o conteúdo que eu quiser - ou vou pra outro lugar"

“TotalBiscuit ‏@Totalbiscuit 11h
Yup, Disney now owns Maker so also owns Polaris. No idea what this means for us, but I’ll make the content I want to make or go elsewhere.”

Simples assim.


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