sexta-feira, 7 de março de 2014

Os portáteis da minha vida

Sempre fui um entusiasta dos consoles portáteis. Aqui vai um longo post sobre esse mundo.

Desde os primeiros joguinhos digitais, sempre fez sentido para mim poder sentar em qualquer canto e matar algumas horas com jogos portáteis - por mais simples que fossem.

Até hoje não sei como esses jogos foram parar em casa

UNIDOS PELAS CIRCUNSTÂNCIAS
Nessa época eu ainda morava com meus outros 5 irmãos em uma casa com 2 TVs. Tínhamos o Atari (e um Telejogo encostado), mas nem sempre podíamos jogar pela simples competição de tempo nas TVs. Pior: sendo o filho caçula, eu sempre era o último da fila para jogar. Meus irmãos acumulavam récordes em longas partidas de River Raid enquanto eu me espatifava nas primeiras curvas, para felicidade de todos.

Aqueles joguinhos digitais eram minha válvula de escape. Apesar da simplicidade, eu podia jogar sem interrupção pelo tempo que quisesse - até virar um mestre nos jogos mais bestas.


CASAMENTO FELIZ
Tive vontade de ter um portátil novamente bem mais tarde, quando comecei a viajar bastante a trabalho. Comprei um nintendo DS e fiquei impressionado com a evolução dos jogos. Castlevania, Zelda e Call of Duty (primeiro FPS que me enganchou) eram os destaques.

Quando lançaram GTA de DS, fiquei viciado. Foi quando comecei a refletir sobre o tempo que eu estava colocando no DS, mesmo quando estava em casa.

Pouco depois acabei comprando um PSP usado. Fiquei bobo de ver o que ele fazia.

Você foi feito pra mim. Levei meu PSP na minha lua de mel

Sendo fã de Star Wars, joguei muito Force Unleashed e Battlefront. Antes de Call of Duty no PS3, Star Wars Battlefront foi o primeiro jogo online que joguei à exaustão. Cheguei num nível em que era temido nos servidores online pela maestria na pilotagem de caças espaciais.


SOLUÇÃO PRA TUDO
Nessa época, achei que não precisaria nunca mais de um console. Comprei um cabo para ligar o PSP na TV e pronto. Tinha um baita brinquedo na mão, que podia levar pra todo lugar, com uma biblioteca sensacional de jogos. Vendi o DS e o PS2 e achei que tinha a solução definitiva de entretenimento nas mãos.

Com ele, nunca mais precisaria de outro eletrônico para jogos. Quantas vezes já fiz essa promessa pra mim mesmo?

Essa percepção mudou um pouco com a chegada do iPad. O iPad é uma solução mais completa (jogos, filmes, música, quadrinhos e web). Mas nunca foi a mesma coisa. Quando o assunto é game, a oferta dos tablets sempre foi inferior.

Cheguei a ligar um Motorola Xoom na TV e conectar com um controle de PS3 para jogar aqueles joguinhos mixurucas na telona. Parecia promissor, insisti bastante nessa possibilidade. Mas acabei sendo vencido pelo trabalho que dava para armar aquela aberração. Muito ônus pra pouco bônus.


INSISTINDO NO ERRO
Depois disso ainda comprei um Xperia Play (o PSPhone). Não me culpem: nessa época, os jogos de telefone ganhavam todos os holofotes. Foi quando jogos como Plants VS Zombies, Cut the Rope e World of Goo apontaram para o potencial da plataforma junto ao mercado 'hardcore'.

Apesar de ter alguns bons jogos, Xperia Play foi um fracasso de mercado


A Sony parecia estar no caminho certo, e talvez filosoficamente estivesse. Mas era um telefone caro demais. Foi um fracasso de mercado que não teve suporte de desenvolvedores. O meu serviu para uns 3 jogos, e depois virou uma máquina de emuladores de Super Nintendo e Game Boy Advance.

Não foi um desperdício total, pois ainda me serviu como telefone por um ano. Mas com certeza foi bem aquém do potencial, e sei que deu um bom prejuízo para a Sony.


FINALMENTE ACHEI O MEU PORTÁTIL
Obviamente fiquei entusiasmado quando anunciaram o PSVita e peguei assim que foi lançado no Brasil. Parecia, de novo, a solução definitiva de entretenimento - com capacidade para jogos impressionantes, e com interface que flerta com o mundo mobile (tela touch).

Teoricamente, isso permitiria ao PSVita desfrutar do mercado hardcore sem deixar de lado os games casuais que poderiam matar o mercado de portáteis.

Na prática, gostei muito do Vita. Ele é matador para jogos, com uma biblioteca incrível de jogos de PSP e de Vita. Se aproxima um pouco do mundo dos Tablets na medida que algumas funções multimídia - Netflix e YouTube são os principais.

É de longe o eletrônico que mais uso para me divertir, e a equação [dinheiro gasto / horas de diversão] deve estar nos centavos. Não passo um dia sem brincar com ele.

Mesmo assim, o PSVita está fracassando no mercado. Existem muitas discussões sobre esse tema, mas vejo dois problemas principais:


PROBLEMA 1: AINDA IMPROVISANDO
Aprendi uma coisa no mundo dos eletrônicos: não adianta querer ser tudo para todas as pessoas. Isso geralmente termina em fracasso. Vejam o que está acontecendo com o Windows 8 e a tentativa de ser Tablet e PC ao mesmo temo.

Parece uma boa idéia, mas não é


O PSVita tenta ser uma coisa parecida com Tablet, mas o seu aspecto multimídia é fraco. Os filmes da PSStore não podem ser comprados no Brasil. Até dá para converter DVDs e colocar nele. Na prática dá trabalho - acabo usando o iPad para isso.

O navegador de internet é bem ruim, e ele não tem apps para quadrinhos ou livros. Não me importo com nada disso, mas a pergunta é: para que investir energia em algo que só vai frustrar os usuários?

Se o Vita tem essas funções filmes e navegador de internet, não há desculpa para que não funcione bem nos dias de hoje.


PROBLEMA 2: MOSCA BRANCA
A quantidade de pessoas como eu, que ainda se importa com portáteis, é insignificante. Mais preocupante que isso, é um mercado insuficiente para justificar investimentos em consoles e jogos dessa natureza.

O consenso na indústria de games é que os portáteis estão morrendo, perdendo espaço para jogos de celular.

Vencedores nunca saem de moda

Com as vendas decepcionantes do Vita, hoje (dois anos depois do lançamento) existe grande dificuldade para conseguir suporte dos grandes selos como EA, Activision, Rockstar e Ubisoft.

Sendo teimoso, ainda me pergunto: como alguém pode comparar um bom jogo de iPad com um bom jogo de Vita ou 3DS? Acho que Uncharted: Golden Abiss e Mario Kart são mil vezes melhores do que qualquer jogo de plataforma mobile.


FUTURO SOMBIO? SEM CHANCE
Acho que os games portáteis estão em uma fase de transição. E mais, acho que essas dificuldades vão ser importantes para o amadurecimento das plataformas.

Acho que é uma situação parecida com a evolução do PS3 para PS4: o relativo fracasso do PS3 (principalmente nos Estados Unidos) fez com que a Sony revisse várias políticas internas e o resultado disso foi o PS4 - que está dominando o mercado, tendo anunciado 6 milhões de unidades vendidas essa semana.

Aprendendo com a surra


Acho que o mercado como um todo, e a Sony em particular, precisa dessa sacudida se quiser se posicionar no mercado de forma competitiva. Se esse mercado tem alguma chance de crescer e oferecer jogos de primeira (como é a proposta inicial do Vita), vai ter que se adaptar mais rápido.


QUAL O CAMINHO? O CHUTE É LIVRE
Mesmo sem ninguém ter perguntado, vou dar meus pitacos.

Não tenho certeza de que o futuro dos portáteis está nas mãos da Sony ou da Nintendo. Empresas japonesas são lentas para se adaptar. As novidades mais interessantes podem vir da Apple, Microsoft, ou mesmo do Google. Não importa, desde que os controles sejam físicos (não apenas touchscreen).

Como já tenho o Vita e gosto bastante dele, segue minha lista de sugestões para que ele fique mais legal:
1. Posicionamento: desde o PSP, a Sony adota um posicionamento que promete experiência de consoles na palma da mão. É um overpromise que invariavelmente frustra a base de usuários. Os reviews de jogos de PSVita tendem a compará-los com consoles, baixando a nota dos games no Metacritics. Os jogos de 3DS não vivem esse problema, mesmo sendo graficamente mais simples

2. Mais memória: se o Vita se aproxima de Tablets no quesito Multimídia - e tem jogos muito mais pesados e complexos do que os do iPad - precisa de memória de sobra. O recente lançamento do cartão de 60G é um bom passo, mas acho que começa a ficar bom com 120G. O preço abusivo do cartão obviamente precisa ser revisto

3. Mais multimídia: as ferramentas multimídia têm que funcionar. Um bom browser é tão básico quanto o segundo analógico

4. Mais shooters: a principal razão de ser do Vita é o segundo analógico para controlar câmera e a mira em jogos de tiro em primeira pessoa.

Em 2 anos, o Vita recebeu apenas 3 jogos. Um ruim (Call of Duty), um medíocre (Resistance) e um bom (Killzone). De que adianta o segundo analógico sem os jogos de tiro?

5. Preço: Acho que o PSVita pode cobrar um premmium pelo seu conteúdo. É um brinquedo incrível. Mas essa diferença precisa ser melhor medida. Cartão de memória de 30 gigas a 200 reais e Angry Birds a 30 dólares é um tiro no próprio pé

6. Facilidade de programação => mais apps: o Playstation Mobile parece ser uma iniciativa interessante, sendo fundamentalmente uma ferramenta fácil e barata para se programar. Se a Sony quer receber profusão de jogos, ela tem que saber que muitos serão 'portados' do iOS. Já que é assim, é melhor tornar esse processo mais fácil possível. Com a evolução rápida daquela plataforma, o Vita estaria muito bem servido recebendo jogos como Civilization Revolution, X-Com. Isso sem falar em alguns bons shooters como Modern Combat, que se encaixariam perfeitamente no Vita

7. Triple A minúsculo: Está claro que jogos triple A/ AAA como Killzone e Uncharted para Vita só podem ser desenvolvidos pela própria Sony, e dificilmente justificam o investimento de tempo e dinheiro. Funcionam apenas como chamariz para a plataforma. Existe um conceito novo de jogos aaa (vamos chamar de triple A minúsculo): são jogos ambiciosos, mas com orçamentos mais modestos. Já existem bons exemplos de jogos assim como Deus Ex para iOS e Android

AINDA NÃO ACABOU?
A conclusão desse post enorme é que jogos portáteis são sensacionais. Poucas coisas são mais gratificantes do que se divertir na hora do cocô.

O Vita matou a charada dos portáteis em termos de hardware: tem um ótimo mix de controles e capacidade gráfica. E hoje ainda está a um preço bem atraente. O problema do Vita está no Software.

É compreensível que a Sony não queria investir muito mais numa plataforma problemática como o Vita, ainda mais diante das dificuldades financeiras que a empresa atravessa. Mesmo assim, fico aqui torcendo para que alguém continue carregando a bandeira dos games portáteis.

CÂMBIO FINAL

Um comentário:

Julio disse...

Nossa, que saudades eu estava do Blog No Intervalo. E que retorno triunfal!

Obrigado por continuar sendo incrível, Blog Intervalo. Você coloca o blog 'Underground' no chinelo no quesito atualização.